Dezembro, festas de fim de ano se aproximando, funcionários que se odiavam de longa data conviviam em clima de harmonia e descontração. Em uma reunião o chefe do setor pronunciou o esperado discurso que encerraria as atividades daquele ano:
     – Boa tarde, pessoal. Como vocês sabem, em nossa empresa seguimos com fidelidade as tradições de final de ano. Pensando nisso, não podemos deixar de lado o amigo secreto.
     Todos se animaram, os presentes costumavam ser bons! Somente no ano anterior, devido à crise, realizaram um amigo secreto limitado a troca de chocolates, mas aquela enrugada esperança assoprava em todos os ouvidos que esse ano seria diferente, com certeza!
     – Bem, a situação continua difícil para o país, e consequentemente para nossa empresa, então com o intuito de não prejudicar ninguém e economizar custos, vamos inovar. Nossa empresa é hábil em encontrar soluções alternativas e este ano realizaremos a marmita secreta, ou quentinha secreta, se preferirem. Faremos isto juntos, como arroz e feijão! – E riu do próprio trocadilho.
     Todos se entreolharam, temerosos de que tinham entendido corretamente.
     A secretária Patrícia levantou a mão:
     – Sr. Paulo, como funcionará essa tal de quentinha secreta?
     – Como você sabe, ano passado ao invés de comprarmos presentes, trocamos caixas de bombons. Este ano funcionará do mesmo modo, mas ao invés de trocarmos chocolates, presentearemos com um almoço. Assim economizaremos também na festa de final de ano, sem precisar trazer comes e bebes. Todo mundo sai ganhando.
     Gisele se revoltou:
     – Sr. Paulo, eu sou vegetariana, e se alguém me presentear com um picadinho de carne?
     – Acalmem-se, eu pensei em tudo. Faremos um documento, onde cada um colocará suas restrições alimentares. É batata!
     – E como vai funcionar? Haverá um limite de preço?
     – Bom, a principio o critério que deve ser atendido é que a refeição deve corresponder a um almoço. Ou seja, nada de aparecerem aqui com uma coxinha ou um pão com mortadela. Usem o bom senso.
     José falou pela primeira vez:
     – Mas, Sr. Paulo, minha boia é um pão com mortadela.
     Paulo se enfezou:
      – Seguinte, o preço deve ser de pelo menos 10 reais. Sem mais perguntas. O Lucas vai passar a lista para cada um colocar suas restrições alimentares.
     Alguns dias se passaram e a marmita secreta aconteceu.
     O cheiro de comida impregnou o local. Algumas pessoas seguravam pacotes de isopor, outras de alumínio, e mais algumas apareceram com embalagens de lanche e garrafinhas de suco. A estrela do dia foi o famoso hot dog completo da barraquinha da tia Neide. Com apenas dez reais você levava para casa um dog bem recheado, com direito a uma mini porção de batata fritas e um refrigerante.
     Antes de terminar a cerimônia, o chefe do setor saiu correndo:
     – Desculpa pessoal, adoraria passar mais tempo com vocês, mas tenho um encontro importantíssimo no restaurante Le meilleur de Paris. A gente se vê ano que vem.